O que Harry Potter tem a ver com nossas aulas? | Artigo

 

Por Damione Damito
Via Papo de Educador

 

Nessa semana decidi ir ao shopping de minha cidade com minha filha de 11 anos e sua amiga da mesma idade. Aproveitando a “oportunidade” causada pela falta de combustível causada pela paralização dos caminhoneiros fomos pedalando em um caminho quase plano de aproximadamente 4 quilômetros encontrando no caminho acidentalmente uma barulhenta manifestação com vários carros e caminhões. Nosso objetivo era muito simples, minha filha como parte da geração adicta em Youtube queria, em pleno final da sábado, comprar cola branca para fazer uma meleca que parece ser conhecida pelos teens de “slime”.

Logo ao entrar pelo shopping center, antes mesmo de ir buscar algo para saciar a sede de nossos corpos poucos acostumados a pedalar, nos surpreendemos ao encontrar no hall principal uma atividade promocional (daquelas que shoppings adoram fazer esporadicamente) onde era reproduzida, com muitos detalhes a famosa “Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts”, mais conhecida simplesmente por Hogwarts.

Dementador: Criatura presente na ficção Harry Potter que se alimentam de felicidade humana, e, assim, causam, depressão e desespero para qualquer um perto deles.

O meu maior espanto não foi ver sobrevoando a Escola de Magia temidos dementadores (criaturas das trevas que sugam a vida de outras pessoas) de quase 3 metros de altura (na verdade eles estavam pendurados no pé direito do shopping, mas vamos manter a magia aqui, ok?), tampouco em ver que poderíamos experimentar a exótica bebida “Hidromel” ou mesmo em ver a perfeição das réplicas das varinhas mágicas que estavam sendo vendidas como souvenirs mas o meu maior espanto foi ver minha filha e sua amiga, adiarem seus planos de beber agua, tomar sorvete e comprar as coisas que estavam ali para comprar para tão somente poder assistir uma aula que começaria em poucos minutos de algo relacionado a astronomia, me perdoem a falta de precisão.

O professor daquela aula era um dos magos da escola de magia e era auxiliado por um elfo torto da cara branca, mais uma vez me perdoem a curta descrição mas não teria como melhor descrever a maneira cênica como o ator caminhava e sua “cuidadosa” maquiagem.

A grande questão é… eu vi ali uma cena um tanto quanto difícil de ser encontrada: crianças batalhando por um lugar naquela sala de aula! E elas não paravam de se aglomerar para aprender tópicos como a influência dos meridianos na contagem do tempo, movimento da Terra em relação ao Sol e outros relacionados, enfim… ciências! As crianças interagiam com o professor e entre si, andavam pelo espaço lúdico criado naquele local se maravilhando com as novas descobertas, trocavam informação sobre várias coisas entre si e, de certa forma, eram recompensadas por cada participação, inclusive os erros.

Essa cena, crianças sedentas por aprender e discutir basicamente os mesmos tópicos que estão presentes nos currículos de suas escolas, porém normalmente sem a mesma empolgação, me fez pensar: Será que somente a magia de Hogwarts poderia despertar nos nossos alunos a vontade de aprender? Creio piamente que a resposta seja não pois nesse site e através do podcast Papo de Educador temos falado e reiterado em como as metodologias ativas na educação tem o poder de tornar a sua aula “magicamente” atraente para os alunos e como elas podem potencializar a aprendizagem deles.

Já não sinto adequado chamar as metodologias ativas de aprendizagem, no geral, como  novas metodologias, inovadoras sim, mas novas não muito. Podemos ver que, por exemplo, a metodologia mão-na-massa ou maker foi batizada a quase 15 anos, isso não significa que foi criada nesse período, claro. Tá achando que 15 anos não é suficiente para propagar algo novo? Deixa te perguntar: Como era o seu celular a 15 anos atrás? O jeito que você lia diariamente as notícias era exatamente o mesmo de hoje? Como você acessava a internet? Não se convenceu? Então vamos progredir no pensamento. Em meado de 1890, o americano John Dewey já começava a alicerçar o que hoje chamamos de Metodologia Baseada em Projetos (o famoso Project-Based Learning), você não entendeu errado… eu disse 1890!

Harry e seu amigo amigo durante uma aula de PBL rs.

Poderia citar ainda muitas outras metodologias e tecnologias (não me refiro somente as digitais) que chamamos de inovadoras que foram desenvolvidas a 30, 40 ou 50 anos atrás e que ainda não são usadas por um número imenso de professores. Creio que o ponto indiscutível que quero chegar é: Por que as escolas são tão resistentes a mudanças?  Por que insistimos em continuar com nossas aulas majoritariamente expositivas em detrimento a tantas outras possibilidades?

Talvez uma das causas do problema apresentado seja a falta desse tipo de conteúdo nos currículos das licenciaturas, a falta de estrutura física adequada e, às vezes, somente vontade do professor mesmo. Aposto que daria tranquilamente para encher a sua tela com várias possibilidades.

Vou ficando por aqui, não pretendo nesse texto trazer respostas e sim indagações, provocações e sobretudo, reflexão. Espero que num futuro bem próximo, os alunos possam ansiar pelos encontros de aprendizagem (me permitam para de falar aula) com tanto brilhos nos olhos quanto aqueles jovens aprendizes de bruxos que encontrei no shopping e que a “magia do conhecimento” possa pairar nos ambientes escolares fazendo com que professores e alunos tragam a realidade muito daquilo que um dia esteve presente apenas nos livros de ficção.

Pra encerrar compartilho uma lição que o Mestre Dumbledora dá para Harry em um dos livros:

“São as nossas escolhas, Harry, que revelam o que realmente somos, muito mais do que as nossas qualidades”.

Que professor você quer ser?

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