Bacalhau na Geladeira #7 – Professores Jedis e Da Vinci [Parte 02] | Artigo

“Até mesmo ele [Da Vinci] foi uma vítima de seu tempo, dos conservadores. […] Ele não possuía todo o formalismo científico exigido por seus pares. Por isso, possuía um status inferior como intelectual se comparado com os professores das universidades da época.”

 

Olá Pessoas!

Começamos nossos dois dedos de prosa hoje agradecendo pelos comentários que vocês fizeram! Ter o feedback de vocês é muito bacana, e fico bastante comovido. Um bacalhau na geladeira comovido!

Como chamei atenção antes, percebo que muito do que vemos aqui, toda inovação pedagógica que os finlandeses apresentam, já vimos algum dia em alguma sala de aula brasileira, talvez de modo até mais criativo, no entanto, como práticas de profissionais isolados. A questão é que não vemos isso institucionalizado como vemos aqui.

No contexto do ensino de tecnologia, existem muitos exemplos de atividades que possibilitam juntar várias áreas do conhecimento: no ensino de robótica, desenvolvimento de jogos etc. Vi uma vez uma palestra sobre a metodologia do Lego no aprendizado e fiquei encantado, primeiro, por ter sido apaixonado por lego na infância e, segundo, pela praticidade da metodologia. Os alunos em nenhum momento aprendiam que a força é igual a massa vezes o produto (F = m*a). Eles descobriam que F=m*a por meio de experimentos usando os robôs de Lego. É um modo de aprender muito mais palpável. É uma maneira de ensinar integradora. O uso de jogos digitais no ensino também pode ter esse feito integrador. Para construir um jogo digital é possível juntar tudo: matemática, física, história, geografia, artes, música, programação. Da matemática até a arte. Os jogos “forçam” as disciplinas a não serem um fim, mas um meio. Sua construção estimula a integração, a multidisciplinariedade.

Hackabot Nano – Robô construído com Arduino. Fonte: Kickstarter

Eu acompanhei também o desenvolvimento de um projeto integrador no curso técnico em informática no IFES, a uns anos atrás. Pude ficar perto e observar ótimos trabalhos como, por exemplo, das alunas Luiza e Débora. Elas fizeram um robô usando Arduino. Vi o quanto elas ficaram empolgadas e o quanto aprenderam. Lembro que comentaram que depois de várias disciplinas de programação, somente foram realmente aprender ao construírem o robô. Vi também no último ano, na Feira de Ciência e Tecnologia do ES, alunos do ensino fundamental e médio de várias instituições com diversos trabalhos de robótica e usando Lego e Arduino, todos plenos da ‘força’, ou seja, cheios de motivação e energia. Aqueles ‘moleques’ da feira estavam com sangue nos olhos. Eles me deram a impressão de que já sabiam o que queriam ser e fazer. Perguntei isso a alguns deles e já sabiam a resposta. E nós, professores? Que tipo de professores queremos ser?

Hoje, com a possibilidade da implantação de um curso técnico integrado ao Ensino Médio no Campus Serra, temos a oportunidade de pensar em um modelo pedagógico novo e escapar da natural tendência de replicarmos modelos tradicionais e fazer como os outros já fazem, tudo separado e encaixotado. Podemos pensar em um modelo pedagógico que estimule esse modo de ensinar, mais integrado e prático? Por que não pensamos em cursos que estimulem comunicação e integração entre disciplinas e professores? Se ele for realmente implementado, por que não aproveitamos a oportunidade para quebrar essas barreiras, esses muros, que os modelos engessados nos transferem e fazer algo diferente? Apesar das dificuldades, acho que existe uma oportunidade de revermos nossa posição e visão como professores e tirarm

os várias lições dessa situação.

Lego Education WeDo 2.0. Fonte: Kinder Spell

Esses exemplos que dei são mais focados no ensino fundamental e médio. Mas não vejo impedimentos de serem usados no ensino técnico e superior. Com o trabalho do Diego Lieban, eu fiquei bastante curioso sobre o Leonardo da Vinci e fiz algumas pesquisas. Achei várias coisas interessantes sobre ele. Hoje o Leonardo da Vinci é bastante reconhecido por suas invenções e descobertas, entretanto, nem sempre foi assim. Até mesmo ele foi uma vítima de seu tempo, dos conservadores. Pelo que pesquisei, ele não se sentia confortável com sua linguagem escrita, que era menos rebuscada, menos técnica. Ele, por exemplo, usava muitos desenhos para a representação do conhecimento. Ele não possuía todo o formalismo científico exigido por seus pares. Por isso, possuía um status inferior como intelectual se comparado com os professores das universidades da época. Mas, por outro lado, possuía um extraordinário espírito explorador e prático. Leonardo, apesar de trabalhar com isso, comentava que não gostava de dormir com os cadáveres despedaçados e fedorentos que ele estudava. Mas pagava esse preço para compreender melhor a anatomia humana. Além de tudo usava a arte para descrever o conhecimento. Enquanto isso os professores das universidades davam aulas exclusivamente teóricas usando textos em latim que muitos dos alunos mal compreendiam.

Para finalizar, repito a minha pergunta: “E nós professores? Que tipo de professores queremos ser?”  Professores exploradores dispostos a dormir com cadáveres fedorentos se preciso? Ou professores teóricos que dão aulas em latim? Ou seria melhor grego? Pouco importa se não nos compreendem!

Convido todos que estão nos lendo a partilharem aqui os casos de excepcionalidade docente que conhecem. Compartilhem aqui, além de suas histórias com “professores Jedis”, suas ideias sobre práticas pedagógicas. Todos se lembram de algum professor “Jedi”, que pensou “fora da caixa” da pedagogia tradicional e fez muita diferença na vida escolar de seus alunos. Contem essa experiência, descrevam as práticas desses mestres, compartilhem aqui a história que viveram com um jedi.

Os textos da série “Bacalhau na geladeira” refletem a visão em primeira pessoa do Professor Rodrigo Calhau que esteve na Finlândia participando de um programa de especialização em práticas pedagógicas inovadoras na HAMK University of Applied Sciences em Hameenlina, cidade localizada a aproximadamente 100 km ao norte da capital Helsink e foram escritos entre Fevereiro e Julho de 2015. O nome da série “Bacalhau na Geladeira” corresponde a uma brincadeira com o sobrenome do autor e o clima frio do inverno finlandês.

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